terça-feira, 29 de abril de 2008

Aromas das 7 Colinas

Devia ser proibido as pessoas cheirarem mal. Especialmente aquelas que andam de transportes públicos. É inadmissível que às 8h da manhã haja pessoas mal-cheirosas nos autocarros e no metro, porque a estas horas indecentes para se estar acordado as viaturas públicas vão sobrelotadas e têm muito mais utentes do que os previstos "33 passageiros em pé".
Como as ruas de Lisboa ganharam o Guiness na categoria de "buracos em alcatrão" é impreterível que os utentes se agarrem aos varões horizontais colocados acima do nível da cabeça. E é assim que se começa a propagar o odor desagradável e nauseabundo que sobe pelas narinas de pessoas como eu, que vão inocentemente (de banho tomado) a dormitar no autocarro e que acordam bruscamente, como se lhes tivessem espetado um picador de gelo na virilha. Para ajudar há sempre um tipo com um bafo matinal a álcool recozido que vai colado a nós.
Claro que nada disto é comparável com a essência tóxica que emana dos trabalhadores, estudantes, desempregados, pedintes e outros indefinidos lisboetas no regresso a casa. Já não é só o sovaco ácido e o hálito mortal que nos corroem a mucosa nasal! A roupa já sofreu processos químicos ao contactar com o suor e o cabelo já seboso de algumas pessoas mais descuidadas com a higiene pessoal liberta, com os movimentos da cabeça, brisas de frigideira usada há dois dias num jantar de famíla. Concentro-me nestes cheiros para ignorar os ténis do rapaz a meio metro de mim que, mesmo calçados, libertam um cheiro de fazer vomitar as tripas. Para alegrar a festa alguns engraçadinhos ainda soltam umas bufas podres.
Se pensava que, ao sair do metro aos empurrões e cotoveladas (sempre com um lenço na cara), me tinha livrado deste purgatório e podia finalmente descansar o meu aparelho respiratório, enganei-me redondamente. O amigo suspeito e fedorento do meu delinquente vizinho de cima estava sentado nas escadas do meu prédio. Por ter 16 anos, a mãe do fedelho mal-criado nem sempre o deixa sair mas isto não desmotiva o seu amigo, o texugo humanóide, que fica à sua espera o tempo que for preciso (o que pode levar horas). Enquanto espera vai impregnando a madeira das escadas e os tapetes das entradas com o aroma da sovaqueira mal lavada. Ou, provavelmente, não lavada de todo.
O martírio termina quando finalmente entro em casa. Pelo menos até descalçar os ténis.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Tenho um professor que aplica uma determinada frase a todas as doenças que tem o prazer de leccionar. Por exemplo:
- A Língua Azul é, na realidade, uma doença muito séria.
Como se alguma doença fosse para rir. Mas ele gosta de frisar este aspecto das patologias que afectam os nossos animais. As dos humanos são de certeza mais divertidas.

Relatório de uma aula de Reprodução

Hoje em dia existem cerca de 100 touros no mundo desenvolvido. Estes são touros topo de gama são, todos os anos, requisitados para um sessão fotográfica a fim de poderem constar numa revista como, por exemplo, o "Catálogo Rural" ou o "Catálogo de Reprodutores"; um género Ragazza Bovina para vacas. Toda a informação que queiram saber sobre o touro está discriminada: peso, altura, cor da pelagem, características dos cornos, filiação, parâmetros produtivos e reprodutivos, etc., acompanhado da referida fotografia, claro.
Cabe ao produtor de uma exploração bovina escolher o melhor touro tendo em conta o que quer melhorar nas suas vacas e a elasticidade do seu bolso...

Ora, como é que 100 touros conseguem engravidar milhares e milhares de vacas todos os anos? Nada mais simples do que um banco de esperma bovino especializado! Na verdade são chamados Centros de Inseminação Artificial e são constituídos por um grupo de elite de touros cujo sémen é recolhido, avaliado, testado, sexado e, na maioria das vezes, congelado.
Não são permitidas vacas nestes centros, como devem imaginar!... Então como se procede à recolha do sémen? Certamente nenhum homem com perfeita saúde mental se atreve a ir recolhê-lo com um copinho... E sem vacas, como é que estes animais com mais de meia tonelada e mau humor nos fornecem o produto cobiçado?
Ora, ninguém nasce ensinado e é por isso que tem de haver um treino prévio, que consiste em ensinar os touros a ejacular no manequim. Esse treino consiste em saltar um touro estrogenizado (isto é, ao qual foram administradas hormonas femininas); os touros mais inexperientes (virgens) devem assistir a estes saltos. Pura pornografia bovina... homossexual... ao vivo! E continuam a insistir que os veterinários são amigos dos animais...
Observem na figura seguinte um treino; as setas indicam touros que assistem ao treino para aprender.


Depois destes treinos em manequins vivos, o touro experiente passa a utilizar um manequim artificial onde descarrega a sua líbido duas vezes por semana. Após o serviço, o touro afasta-se e é possível observar um homem correr para recolher o precioso fluido (precioso porque vale umas centenas de euros). Um trabalho arriscado com muita adrenalina a correr no sistema circulatório...



Há quem se oponha a estes métodos ditos... pouco humanos... São gastos, nos dias que correm, milhares de euros em conferências internacionais sobre o bem estar animal, sendo um dos mais discutidos o tema da imaculada concepção! É com grande preocupação que os grandes cientistas discutam se será ético uma vaca nunca ver um touro à sua frente e nunca ser montada por ele. O cerne da questão é: como é o estado emocional da vaca após parir um vitelo? É que pensando bem, a coitada não conhece outra coisa que não vacas e de repente sai-lhe um tipo indefeso pela retaguarda!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Prefiro estar 4h a fazer palpação rectal em vacas com diarreia e flatulência do que 20min no hospital de animais de companhia.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Quando dizem palavrões, não é para nós

Eu já estava atrasada para uma aula no conservatório e quando isto acontece parece que as pessoas fazem de propósito para não passar nem deixar passar. Na Rua da Rosa havia mais trânsito que o costume e tive que subir a rua pelo passeio. De um lado da rua uma velhota andava devagar, do outro um miúdo inconsciente do perigo dos carros saltitava de um lado parao outro. Escolhi o lado da velhota, não sei porquê... Estava a tentar ultrapassá-la mas os carros passavam a uma velocidade superior à permitida nos limites da cidade e apenas me conseguia manter junto à senhora, atrás dela. Ela começou a gritar:
- Passa lá, vá! Fod@-se, c@ralho, put@ que o pariu! Passa lá, passa lá!
E depois encostou-se para eu passar, mas eu estava petrificada.
- Ah, desculpa filha! Pensei que fosses o meu neto!
Acho que sorri (não tenho a certeza) e passei. A senhora ainda gritou:
- Vai com Deus, filha! Vai com Deus!