sábado, 31 de outubro de 2009

Rastreios

Há cerca de uma semana, exactamente 6 dias, que o danadinho do meu olho esquerdo se encontrava totalmente desassossegado!!!
O sacaninha, todos os dias se mostrava saltitante e anormalmente irrigado (estas características não eram simples devaneios psicológicos meus, eram perceptíveis ao exame físico de palpação e à inspecção).
O vício da profissão induz-me rapidamente a realizar uma urgente lista de diagnósticos diferenciais para hipertensão e stress oculares:
-Diabetes
-Glaucoma
-Cansaço ocular (leitura, computador, televisão…)
A lista poderia ser mais extensa, mas perdeu o interesse a meio, acho que me distraí.
Faço-me acompanhar de uma rapariga “bacana” e circulamos na linha azul do metro de Lisboa. Marquês de Pombal é a estação… Um rapaz loiro salta em direcção a nós e mal lhe consigo ver a cara, carrega múltiplas florezitas de peluche e numa voz esganiçada e de uma simpatia ensaiada pergunta se não queremos ajudar a Associação…
“E a mim quem me ajuda?” penso, rabugenta, o meu dia está a ser longo… A “bacana” olha para mim, se eu não a controlo vê-se obrigada a ajudar todas as associações, mendigos, pedintes e amigos próximos por não saber dizer “Não!”.
Recuso comprar uma florzita, apesar de ser solidária com a dita Associação. Tal acto não é suficiente para conseguirmos seguir o nosso caminho. A Sra. Lúcia Qualquer Apelido (ao que percebo da mesma Associação) pergunta-nos se nos pode fazer um rastreio: Diabetes! “Não custa nada, só uma picadinha no dedo, em troca de uma moedinha para a Associação!”
Diabetes? Olha… se bem me recordo era um dos diagnósticos que me atormentava para justificar o comportamento do meu rebelde olho atleta de ginástica rítmica…Claro que queremos fazer o rastreio! (Ignorei a face pálida e suada da minha companheira “bacana”…mal sabia eu o que me esperava.)
A Sra. Lúcia, solícita, senta-me numa cadeirinha em frente à sua mesa de rastreio improvisada e pega no álcool para desinfectar o meu dedo do qual vai extrair a gota da verdade …
Enquanto a “bacana” agoniza de ansiedade e medo ao meu lado, eu oiço a Lúcia, hipocondríaca com justificação, revelar todas as suas maleitas que, contudo, não a impedem de ajudar o próximo:
“Sabe, jovem, eu sofro muito de hipertensão. Sou diabética, padeço de ansiedade e de stress. O que me incomoda mais, sabe, é a apneia do sono, mas os joanetes é que me dão mais trabalho, fui agora operada a 5ªvez, porque…”
Arregalo os olhos e faço uma expressão de atenção e de pesar…a “bacana” continua lívida mas eu nem dou por isso.
A Lúcia prossegue: “Hoje em dia, há muitos camelos… olhe eu ajudo toda gente, ainda no Natal passado faleceu o Sr. Sousa e não lhe tem faltado nada…claro que também lhe ajudo a mulher e os filhos que ela não tem pernas a pobrezinha!”.
Após todo o ritual de desinfecção e de preparação da máquina que me iria medir a glicemia, a Lúcia pica-me o dedo, de onde brota uma gotinha encarnada…Compasso de espera…a máquina lê o resultado…………….88!!
Não sou diabética, maldito olho que me aterrorizou durante 6 dias, yeahhh! Venha esse bolo recheado de chocolate que eu não sou diabética! Weeeeeeeeeeeeeeeeeeee…..
Lúcia continua a bombardear-nos com a sua experiência de vida: “ Eu sim sou solidária, não sou como as madames que vão ajudar no Banco Alimentar e depois levam tudo para casa, não sobra um pacote de arroz para dar ao Nicolau…eu estou a recolher fundos…e você minha linda tem um pulso de atleta!”
Levanto-me da cadeira ainda a dançar de alegria por não ter diabetes e por me poder ir refastelar num banho de glicose.
A minha companheira “bacana” cai pesadamente na cadeira antes ocupada por mim e a Lúcia luta com ela para lhe agarrar o dedo, desinfecta-lhe o mesmo a custo e pica-a sem piedade. “Nãooooo!” grita a pálida “bacana” e, ao ver jorrar uma mangueirada de sangue do seu dedo, desfalece imediatamente, desmaia e caí no chão sujo do metro do Marquês de Pombal…Ela tem aversão a agulhas e a sangue e ninguém se lembrou…
Toda a equipa do INEM e várias corporações de bombeiros foram forçadas a deslocar-se ao local.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Aventuras depilatórias


No outro dia (há 3 semanas atrás) recebi uma sms de uma celebridade. Dizia ipsis verbis o seguinte: “…vou contar-te uma história para te rires um bocado. Estava eu a fazer a depilação com a maquineta, eis senão quando a dita apanha-me uma madeixa de cabelo! Em dois segundos fiquei com a máquina encravada a 3 centímetros da cabeça…ao tentar tirar a máquina, os cabelos partiram-se…felizmente não tenho um pitonísio como daquela vez que queimei o cabelo…”
Agarrei-me imediatamente ao órgão gástrico e soltei gargalhadas histéricas ao imaginar tal celebridade em tamanho sarilho. Mas, imediatamente um forte sentimento de solidariedade assolou o meu ser, afinal, também eu, uma década antes tinha sido vítima da mortífera e implacável máquina depiladora.
Posso, com firmeza dizer que nunca me senti muito fascinada, nem tão pouco convencida com tal utensílio de uso feminino. Por muito eficaz que fosse a maquineta incrivelmente publicitada, a verdade é que o seu uso se assemelhava a sofrer várias descargas eléctricas (uma por cada folículo piloso) por toda a superfície a depilar. Qualquer semelhança com as mulheres sorridentes e felizes dos anúncios televisivos era pura utupia e as dores sofridas pela minha pessoa eram comparáveis a ter urólitos em viagem descendente na uretra.
No entanto, num dos dias em que me senti invadida por uma coragem hercúlea e decidi usar o objecto do demónio, também eu fui vítima e também eu fiquei com a besta pendurada no metro e meio de cabelo que carregava comigo na época. Muito pior do que quando queimei os pêlos do nariz a cheirar uma vela de limão. E nunca mais toquei na maquineta, jaz solitária na sua caixa, coberta por um papel onde estão desenhadas algumas letras vermelhas: “Não tocar, perigo de penteado excêntrico”…

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Antes da descoberta do microscópio acreditava-se em coisas Fantásticas!
Se ler a Bola e a Maria domino o pensamento Nacional.

Riscas

Não sei o que tens contra as riscas.
O marca passo dos meus dias são as riscas...
Riscas.
As riscas dos lençois.
As riscas do tapete.
As riscas da pasta dentífrica.
Riscas.
As riscas do pacote de cereais.
As riscas da auto-estrada.
As riscas da cancela da portagem.
Riscas.
Também eu, agora, tenho qualquer coisa contra as riscas...
As riscas da tua camisa cientificamente engomada.
As riscas dos códigos de barras.
As riscas do confinamento do teu agir.
Riscas.
São um risco...as riscas são um risco!