terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Um dia para me sentir bem comigo mesma

Depois de chegar uma hora atrasada ao exame oral de Clínica e Patologia das Doenças Infecciosas I e depois de o professor me perguntar a subida e descida do Estatuto Sanitário das explorações europeias relativamente à Brucelose (ao que respondi "Desisto, professor" - já bem basta estar potencialmente infectada com a bicheza por comer queijo fresco, não precisam de me fazer perguntas destas), decidi ir para casa.

Apanhei invariavelmente o 723 Desterro ainda a pensar porque raio me calhou a bola nº 3; fui a última pessoa a tirar a bola da urna (claro, tinha chegado atrasada porque não encontrava a sala de exame...) e a cada bola que os meus colegas tiravam eu rezava para que fosse a bola da Brucelose... alguém tinha de ficar com a prova da Brucelose! Quando chegou a minha vez restavam três bolas e calhou-me a nº 3. Obviamente.

No Marquês de Pombal a quase totalidade dos jovens saiu do autocarro para apanhar outro transporte da mesma categoria ou o metro, para depois apanhar outro autocarro e quiçá o comboio.

Restei eu como representante da juventude lisboeta no 723 Desterro; não havia pessoas de meia idade, apenas velhotes. Iniciou-se uma conversa com um final infeliz (para os lados da narradora):
"Está a ver este joelho?!" - guinchou uma velhota de metro e meio com várias ligaduras feiosas à volta do joelho. Bem podiam usar Vetrap que sempre é mais divertido.
O interlocutor da senhora era o marido desgastado e grisalho de uma senhora enrugada de cabelos de cor indefinida.
"Isto foram os estudantes que me empurram quando estava a entrar no autocarro!"
Logo os estudantes, pensei... há imensos jovens delinquentes, mas quem a empurrou foram estudantes... Vejam lá se ela se queixou quando o autocarro estava cheio desses belos espécimens da sociedade? Pois, fez uma espera e encurralou o único exemplar dessa subvalorizada categoria.
Senti vários olhares virados para mim.
"Empurraram-me e eu caí! E nem me ajudaram a levantar, os fedelhos!"
Olhares de profunda indignação na minha direcção, como se tivesse sido eu mesma a empurrar a senhora.
"Nem me ajudaram a levantar e fugiram na galhofa!"
Comecei a ter medo daqueles olhares...
"Estudantes! Não sei o que estudam hoje em dia! Não têm respeito nenhum!"
Ondas de puro ódio geriátrico batiam na minha cara como estaladas. Todo o autocarro olhava para mim como se fosse uma neo-nazi.

Não aguentei a pressão dos olhares e saí numa paragem que não era a minha.

Animal Hospital

Os meus amigos gostam de partilhar comigo as suas experiências particulares, o que eu acho excelente. Só não acho excelente quando a conversa começa com "Sabes aquela série que dá na Sic Mulher, num hospital veterinário?". Quando a conversa começa assim, é possível visualizar fumo a sair dos meus meatos acústicos externos, mas é preciso ter alguma atenção, porque normalmente o cabelo disfarça este fenómeno que tão bem caracteriza o meu estado de espírito quando ouço esta frase pela vigésima quinta vez na semana.
"Sabes aquela série que dá na Sic Mulher, Animal Hospital?"
"Sim, mas não vejo."
"Ohh, porquê? É tão gira!"
"Porque o meu dia-a-dia é exactamente aquilo que vês, por isso quando chego a casa não quero ver mais; quero ver séries fictícias ou estupidificantes. Qualquer coisa que não tenha a ver com veterinária."
"Ahh..."
E com isto penso ter posto um ponto final à conversa. Mas não...
"É que no outro dia foi tão engraçado, porque tratava-se de uma iguana que tinha engolido uma pedra enorme, via-se ao raio X e tudo! Sabes porquê?"
"Porque tinha falta de minerais."
"Sim! Foi isso que o veterinário disse! Viste esse episódio então!"
"Não, não vi..."
Era uma dica, mas pelos vistos foi demasiado subtil...
"E então o veterinário deu-lhe uma coisa na boca com uma seringa..."
"Parafina."
"Sim, exacto! E depois a pedra saiu..."
"No cocó, eu sei."
"Pois! Como é que sabes?"

Quando estiverem com um estudante de veterinária NÃO perguntem se conhece "aquela série que dá na Sic Mulher, Animal Hospital". É a mesma coisa que perguntar a um estudante de Medicina se já escolheu a especialidade (isto é uma dica...).

domingo, 17 de fevereiro de 2008

O prazer de estudar (com cheirinho a limão)

Tenho uma amiga que descobriu um novo local para estudar. Ela diz que já não consegue ir à biblioteca e em casa distrai-se...
Ela fala comigo e diz: "Este local é muito fixe!!! Fora o cheiro a esgoto, as baratas e o som do aspirador, estuda-se lá muito bem!".
Ela até costuma ser exigente, mas acho que o prazer de estudar é bem maior....

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Aos donos de gatas

Quem tem gatas sabe que quando chega a altura do cio começa um verdadeiro pesadelo - as gatas ficam doidonas, histéricas, chatas, ninfomaníacas, para não mensionar os xixis de odor poderoso em locais indesejados...

Não desesperem caros amigos! De alguma coisa serve o meu adorado curso - posso ajudar-vos.

As gatas não descansam (nem nos deixam descansar) enquanto não ovularem. Para que tal fenómeno ocorra têm de ser estimuladas por um macho. À falta de macho, ou se não querem que a vossa gata fique prenhe, apresento-vos a solução: vocês próprios podem estimular a ovulação da gata. Basta enfiar um cotonete no respectivo local, substituindo o gato. Podem também utilizar canetas Bic. As canetas Parker e Pelikan não têm um efeito tão satisfatório.

Serão abençoados com 15 dias de pura bonança porque após este divinal período de paz a vossa gata apercebe-se de que foi enganada e recomeça a demonstrar a sua luxúria. Podem repetir o processo até que acabe o período reprodutivo.

Ou simplesmete esterilizem a gata - os resultados são brilhantes e definitivamente duradouros e não têm de andar atrás da gata de quinze em quinze dias, quatro vezes por ano.

Boa sorte,
a vossa amiga, futura Sr.ª Veterinária.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Comentário a um blog

Tive o prazer de ler num blog (http://tulipaseperolas.blogs.sapo.pt/19940.html) o texto mais fofinho acerca dos veterinários! Mesmo fofinho. Mas tão idealisticamente errado...

Lamento desiludir-te, mas os animais não olharão para ti com profunda e verdadeira gratidão.
A próxima vez que te virem fogem ou atacam-te pois apenas te recordarão como aquela que lhes espetou a agulha, aquela que cortou demasiado as unhas, a que os cortou ao meio, a que os separou dos donos, a que lhes enfiou uma coisa pelo traseiro acima... Não te iludas, cara colega; nós só fazemos maldades aos bichos...

Indignação

A nossa amada Ministra da Educação aprendeu uma palavra nova: "conforto". E não se cansa de a usar! Fala em conforto da situação e do conforto da educação... numa tentativa de apaziguar os revoltados manifestantes de hoje à tarde!

Como sabem é seu objectivo exterminar o Ensino Supletivo ou seja EXTINGUIR OS CANTORES. Mas isso não a impediu de ir assistir a um memorável concerto da Cecilia Bartoli na Gulbenkian (cuja direcção assinou unanimemente a petiçao Contra o Fim do Ensino Especializado da Música em Portugal).
A senhora foi sem vergonha assistir à performance de uma cantora lírica!
Realmente a próstata é um orgão que não me faz falta nenhuma...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Homo sapiens sapiens


Somos apenas humanos. E já é muito.

A posição erecta do Homem é o que o separa à primeira vista do resto do mundo animal. Toda a dignidade do Homem reside no facto de se locomover utilizando apenas os membros inferiores. É por isso que é quase impossível não soltar pelo menos um sorrisinho quando alguém cai.

É natureza humana procurar o transcendente e atingi-lo. A nossa mente é mais poderosa que uma bomba nuclear. Tomemos o exemplo da matemática - é pontífice máximo da inteligência humana, é pura, é perfeita. Chega mesmo a transcender muitas mentes humanas.

Mas, por outro lado, existe em cada um de nós um poderoso macaco. Por mais evoluído que o nosso intelecto seja, por mais limpa que a nossa alma esteja, há sempre a parte fisilógica da nossa máquina de sobrevivência - o corpo.

Corpo esse já tanto estudado com as nossas gloriosas 1.350 gramas de cérebro mas que ainda assim nos consegue surpreender com um fenómeno qualquer não tão evidente ao olho nu, deixando um trilho de pistas moleculares que nós seguimos alegremente e nos leva a uma porta que se abre num recreio infinito para o nosso intelecto.
A máquina, ao mesmo tempo que nos fascina, prende-nos e envergonha-nos. Porque mesmo a mais poderosa das mentes não consegue controlar necessidades corporais, básicas, iguais às dos outros seres filogenética, intelectual e espiritualmente inferiores.
Quantas ideias brilhantes se terão formado, quantas decisões importantes da História da Humanidade se terão tomado na latrina? Já diz, e muito bem, o povo há muitos séculos:

Caga o Rei,
Caga o Papa.
Sem cagar
Ninguém escapa.