quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Geriatric Hatred - Round 2 - Fight!

Hoje foi um dia normalíssimo da minha vida, ou seja, andei de autocarro. Mais precisamente no 758. Era uma hora do dia com poucas pessoas no 758 Cais do Sodré e sentei-me num lugar vazio. Era um lugar qualquer, no meio de outros tantos lugares vazios. Não era reservado a grávidas, senhoras com crianças ao colo, idosos ou deficientes. Era um lugar normalíssimo, num dia normalíssimo.

No Largo do Rato entraram várias pessoas no autocarro. Como é óbvio não me pus a observar cada pessoa que entrava, aliás estava perdida nos meus pensamentos. Mas senti... um olhar... fixo em mim... um olhar carregado de... ódio geriátrico...

Já familiarizada com este tipo de olhar (ler Um dia para me sentir bem comigo mesma) decidi enfrentá-lo com coragem heróica e dirigi um olhar cheio de autoconfiança e poder que dizia "O que é que foi?".

Era um típico velho lisboeta: 1,70m, quase careca mas ainda com uns insistentes e miseráveis cabelos (que deveriam ser brancos mas estão amarelados), nariz hipertrofiado e vermelho, vários dentes perdidos em combate, as orelhas... não vou falar delas. Camisa de riscas verticais cujos botões superiores estão desabotoados exibindo um tufo de pêlos, também amarelados, e de higiene duvidosa. Os botões inferiores mal encaixam na sua casa e fazem um esforço estóico por conter a barriga ascítica que se situa por cima de umas calças velhas e sujas. Nas mãos e às costas, vários sacos de plástico de volume considerável, certamente cheios de objectos completamente inúteis, roupa ou produtos alimentares.

O que se passa com os idosos? Não entendo este ódio dirigido. Queria o meu lugar? Detesto quando eles têm lugares preferidos...

Quando os nossos olhares se trocaram não houve uma medida de forças demorada. O senhor soltou um som peculiar, intrigante até. Uma mistura de grunhido de varrasco com um bufar de gato de rua. Tive medo, e desviei o olhar.

Sou uma cobarde...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Numa aula sobre gestação em éguas, o professor disse:
- Quando não sabemos quem é o pai, temos situações complicadas.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

WCs internacionais - Parte I


São raras as casas de banho da Tunísia que não possuam uma misteriosa mangueira ao lado da sanita. Esta mangueira causou um enorme desassossego entre o meu grupo de amigos e companheiros de viagem, tendo mesmo gerado uma discussão acesa acerca da função do dito objecto.

O que parecia mais óbvio, para mim e para a minha amiga e colega de quarto Maria, era que a mangueira tivesse como função a higiene íntima da mulher mas como os rapazes acusavam a presença da estranha mangueira nos seus lavabos acabámos por concluir que fosse para lavar o rabiosque após o envio de um fax menos limpo. Depois pôs-se a hipótese do famoso clíster.
Como os autoclismos deste país, que serviu de cenário a famosos filmes como "O Paciente Inglês" e "A Guerra das Estrelas", são muito pouco potentes colocou-se a hipótese de ser um método auxiliar ao mecanismo do autoclismo.
Assim, andámos uns quantos dias com a questão nas nossas cabeças. Não que isto fosse crucial e que estivessemos sempre a pensar nisto, devo esclarecer! Antes porque, como é óbvio, uma pessoa vai várias vezes à casa de banho e, no nosso caso, que andámos de cidade em cidade, deparámo-nos com várias marcas e modalidades de mangueiras-mistério.

À medida que aprendiamos mais sobre o país, a sua cultura e a religião predominante, começámos a acreditar que a função da mangueira era tão-somente lavar os pés. E assim ficámos, convencidos que tinhamos desvendado problema da mangueira.

Para ter a certeza, perguntámos ao motorista do nosso 4x4, mas ele só falava árabe e francês e o nosso francês não foi o sufuciente para expor a questão. Ou então ele não quis responder.

No penúltimo dia da nossa viagem visitámos a bela cidade de Sidi Bou Said. Fomos numa carrinha cheia de outros turistas protugueses e fomos acompanhados por uma guia que falava espanhol. Aproveitámos logo para colocar a questão em palavras portunholas:
- Qué es el tubo que se encuentra en los lavabos?
- Cómo? El flexible?...
- Si...
- Es para... lavar el culo!...

O mistério foi resolvido, finalmente, e com um "Aaaaah!..." geral na carrinha - os outros portugueses também tinham a mesma dúvida...

O guia mudou rápida e estratégicamente de assunto:
- En Tunis los taxis son amarillos!...

Nota da autora: esquecemo-nos de tirar uma fotografia ao dito "flexible" pelo que adicionei uma fotografia que encontrei na Internet - nunca estive nesta casa de banho nem numa parecida.