quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Banhos Publicos

Não queria correr o risco de limitar este espaço ao tema veterinário…mas não resisto… (permitam-me que adie os tais pensamentos prometidos), sinto uma necessidade visceral de relatar os últimos acontecimentos “em campo”…
A minha manhã já não começou bem (ui, como tantas outras). Era mais um dia de saída a explorações de gado e o relógio ausente no meu pulso marcava um atraso de 2 minutos e 47 segundos.
Eu, pessoa ensonada, desgrenhada e andrajosa, numa das paragens concorridas de um dos autocarros com lotação esgotada todas as manhãs. Na mão, um objecto desenquadrado, uma super “fashion” mala fim-de-semana (de marca reconhecida e cores adequadas) e nas costas uma mochila de tamanho digno de mudança de casa e de vida.
O esperado… Ao chegar ao ponto de encontro, a carrinha artilhada com os fantásticos mini veterinários e os seus objectos de tortura desenhava já a curva e perdia-se em Monsanto. Não desisti e no fim de uma perseguição agressiva o autocarro deixa-me no verde enquanto eu telefono para alguém a fim de persuadir o Excelentíssimo a não me deixar na só por si já embaraçosa situação (não me obriguem a explicar porque é que um ser, sozinho, nas estradas de Monsanto, de malinha fim-de-semana é embaraçoso).
Já a bordo do “machimbombo” branco rumamos à concentração de vacas.
(Não….naooooooooooooooo! Não quero reviver……diazepam…)
Ao chegar à exploração (relembro que fui colhida no meio do nada e por isso toda a minha roupa e calçado de defesa/trabalho jaziam no cacifo 6#) e depois de realizar diversas tarefas pouco higiénicas, foi-nos atribuído um duro serviço: necrópsia de um vitelo timpanizado.
Uma colega mantém o bicho equilibrado, eu dirijo-me à região caudal enquanto o Excelentíssimo afia na pedra o objecto…o ruim… (coiso e tal).
Respiro!!!
O Excelentíssimo ergue o punhal acima da linha da cabeça, e golpeia o majestoso abdómen do defunto: vertigem, esguicho de cheiro, de espuma, de cor, de tensão… As minhas lentes turvas, o cabelo e a roupa regados de liquido ruminal espumoso, acastanhado e polvilhado de bactérias autócnes; os ténis rosa como tela da “bosta” (ainda que não o fosse superava o título, grau, insígnia e tudo e tudo da referida).
Fiquei vermelha de raiva (ainda que mascarada pelos salpicos de mega tamanho cor amarelo-acastanhada e pelo visco-espumoso do liquido ruminal).
“Peço desculpa alun@!, já se vai lavar…mas venha primeiro palpar este espectacular conteúdo espumoso, é raro de ver algo tão bonito”
Bonito pensei eu, bonito, cheiroso, atractivo, didáctico…adjectivos mil para o banho consumado (Qual banho de lama no Brasil?).
Respondi entre dentes (prefiro esquecer o que mais havia entre dentes) “Já palpei, já senti, já cheirei a fragrância, já comi…”
O encontro seguinte foi com a escova do chão, mangueira e detergente… (não sem antes sentir os risos de escárnio da minha equipa!) em vão digo eu! Após 8 horas com aquele cheiro entranhado em todas as minhas células epidérmicas, consegui apanhar o tal autocarro concorrido, o mesmo do inicio do dia…E para terminar em beleza ouvi os simpáticos comentários da plebe :
“Já não basta ser pobre…e vir aqui enlatado…estas pessoas agora não se lavam” ou “Eu apresentava-lhe o desodorizante”…”É que cheira aqui a Me#RD@!” …
Sem forças ou energia resta-me dizer: não era Me#RD@ era liquido ruminal, ´tá????

3 comentários:

Luísa Cê disse...

Ui, que pena que não haja visitas de estudo em letras. O que diria o Lobo Antunes ou o Saramago se lhes invadíssemos as casas? Haveria projectéis? Blog muito bomm

Anónimo disse...

Je crois que tu plonges dans l´esthétique du laid, si l´on prend le laid «comme intermédiaire entre le beau et le comique», et en l'examinant sous ses différents points de vue:dans la nature, dans l'esprit humain (le mal), et finalement dans l'art.
Je pense que les descriptions pleines d´ironie et d´humour ne sont qu´une stratégie d´éloignement à la souffrance.
Ça veut dire que tu te débrouilles très bien, échappant ainsi au désespoir de la merde des animaux de cette ferme maudite, en écrivant des textes qui sont de vraies oeuvres d´art.

Anónimo disse...

Mamma mia!!!!!Anda uma mae a ensinar a lavar as maos a uma filha e depois um prof faz isto? e depois as estatisticas dizem que os portugueses não lavam as maos...!coitaditas...
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