quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Oh menina, faxavor!

Eu sou uma pessoa humilde e ando de autocarro. Todos os dias apanho dois autocarros para o local onde recebo uma educação superior em troca de umas simbólicas centenas de Euros. No meu dia-a-dia deparo-me com pessoas de todas as idades e culturas nos transportes públicos, e ao longo destes anos, diria uns dezoito, aprendi e vi evoluirem costumes e regras cruciais próprias deste meio.
Uma das maiores lições que aprendi nos últimos anos desta minha experiência vivencial nos transportes públicos foi que hoje em dia já não é seguro ceder o lugar a pessoas idosas no autocarro, por vários motivos que passo a explicar:

  • para começar, alguns velhotes (diria uns 30% da população geriátrica lisboeta) ofendem-se quando lhes oferecemos o nosso lugar. Ficam com a cara mais enrugada do que já têm, respondem mal (um "não, obrigado" bastava, mas eles gostam de acrescentar algumas palavras desagradáveis e, se conseguirem, alguns palavrões) e ainda refilam com a "juventude de hoje". No entanto...
  • a maioria (60%) recusa o lugar facultado porque não gosta dele. Gostam mais de outro, um que já têm em mente antes de entrar no autocarro. Claro que "o outro lugar" que preferem está ocupado por uma qualquer inocente pessoa que provavelmente está a dormir e que não tenciona levantar-se. Mas quem é que diz "não" quando um velhote se aproxima e grita com a voz mais fina que consegue "oh menina, faxavor!"? Eu acho indecente; são preciosos os minutos de sono no autocarro. É que...
  • se não cedemos o nosso lugar, lá vem a velha história da "juventude de hoje" que já se contava quando eles próprios eram uns jovens inconscientes. Então e a "velhice de hoje"? São bem piores que nós, jovens. Mas não posso deixar de parte...
  • os restantes 10%, os que aceitam o lugar. Mas devo realçar que dentro desta aliquota da 3ª idade cerca de 20% não diz obrigado, 70% diz um obrigado seco, mal humorado e de má vontade (se conseguirem ainda refilam qualquer coisa) e 10% (dos 10%, ou seja, 1%) dizem um sincero obrigado com um pequeno sorriso que, pessoalmente, me aquece o coração e me faz ter esperança na velhice de hoje.

Durante todo este processo de cede/não cede, refila/agradece, ao nos levantarmos para ceder o nosso precioso lugar, quando o velhote não se senta, há outro parvalhão qualquer que nos rouba o lugar, normalmente uma pessoa de meia idade. Esses sim, são os delinquentes da sociedade de hoje.

Sendo uma assídua passageira da Carris, costumo encontrar outros passageiros da 3ª idade, também assíduos desta nobre empresa, tão preocupada com a opinião do cliente que até fez um inquérito importante (ao qual não respondi porque nunca chegaram a telefonar-me de volta. Com grande pena minha, porque tinha tanto a dizer...). Várias vezes presenciei diálogos como este:
- Oh Manel, por aqui hoje?
- Oh Izidro, então? Hoje vou neste, mas ontem já fiz a volta do 12.
- Pois, eu faço agora esta e depois faço a do 720.

Estes simpáticos compinchas de viagem, tal como outros da sua faixa etária, como não tem nada para fazer, compram um passe e exploram todas as carreiras do sistema de transporte rodoviário lisboeta! A culpa não é deles... Cá não há muito a tradição do Bingo...

4 comentários:

Anónimo disse...

Eu também acho realmente indecente: pior so o flagelo das grávidas que normalmente acham que a população tem visão ecografica e lhes consegue diagnosticar uma gravidez de duas semanas :) Sim, é preciso ter olho para esses feijões natatórios, enquanto que se as senhoras já estão gestantes de 7 meses normalmente corre-se o risco de as confundir com alguém que abusa dos queijos e dos fritos. Haja paciência!

Luísa Cê disse...

ai ai, os autocarros. falta as senhoras da hortaliça que ocupam normalmente vários lugares... e os miudos regulas: oh flávio, cais e magoas-te e ainda apanhas por cima!

Anónimo disse...

Excelente ;)

Só falta a referência à "peixeirada" ocasional, "jovem vs. meia-idade", do género: "os seus filhos devem ser iguais a mim!"

Anónimo disse...

A juventude está perdida! Esta malta de hoje em dia é uma vergonha. Sim, eu sou uma pobre velhinha que tem:
3 artoses no joelho direito
osteoporose no dedo mindinho
cataratas no Niagara
Já sofri:
5 ABCs
3 ataques de coceira
1 cirurgia ao intestino
E acho indecente não me deixarem sentar nos lugares do autocarro que mais gosto... sim porque á sitios onde é dificil mudar a Tena Lady!!!
Jovens... são um flagelo social...
E aquelas roupas modernas muito estranhas... e aqueles cabelos???
não sabem a tabuada... nem sabem quer 5x8 é 34!! no meu tempo eu até sabia as linhas do comboio!!!
Eu até sei mais que os universitários...