quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Casos clínicos: ideias chave

A última escrita, quer acreditem ou não, um reunir de ideias soltas mas todas elas reais…a tal esquizofrenia prometida…

Chuvinha irritante, gentinha nervosa e o mesmo autocarro…
Uma pseudo francesa carrega uma vida e um rebanho: dois pela mão, um pela trela, dois por extensão e o último ao penduro (este ultimo ainda não distingue as formas nem as almas ainda que tenha a sensibilidade exacerbada). A Própria ocupa todos os lugares reservados a pessoas Especiais (!!!) e ainda mais alguns. “Oh faxavor!” – o mítico, educado e caloroso palavreado…para o soltar, a Própria já não é possuidora do título de pseudo francesa.
O suspenso gesticula e baba-se, os palhacinhos por extensão já se perderam no meio das grávidas, das beatas, dos reformados, dos universitários e dos beges (Essa gente que se veste de bege…sempre amorfa, indefinida e imparcial, quase inócua não me provocasse choque anafilático).
Não percebo porque um deles vem pela trela, desconfio que é por ser míope ou usar aparelho (perco sempre vários minutos a observar a arquitectura dos elásticos coloridos…acho que os deviam recomendar à gente que veste de bege…” be-ge” “ ge n te”).
Dos dois que viajam pela mão, só um não carrega chapéu-de-chuva, não usa botas ortopédicas mas joga a esquecida X-box “once in a while”.
Estou desconfiada: a senhora apresenta seis descendentes (todos em concordância de género e cores, distribuídos nos bancos vermelhos pela escadinha dos dias de vida e do calendário lunar), tem as unhas exemplarmente arranjadas, o cabelo alinhado e a roupa perfeita, não tem uma ruga e não acusa cansaço…no entanto faz-se acompanhar do tal jardim zoológico e frequenta “confortavelmente” o sistema (público?) de transportes urbanos…”Não visse, não acreditasse…”.
Acabo por ir até ao fim da linha, terminal fora de rota.
A senhora…aristocrata ou certamente adepta dessas seitas “shop-soy” (plantinhas em casa e dois piriquitos)! Hilariante! No ar. Perfume genuinamente francês. Disciplina de vida encaminhada e monótona (ainda que não se vista de bege) e o reforço de que os animais, ups! as crianças são o melhor da vida.
Continuo no mesmo autocarro, alheia à rota; deliciosas bolinhas de chuva.BOLAS?!!! A octogenária da frente não tem uma reforma ao nível da Tena Lady, há estado liquido no cinzento do transporte colectivo (e a chuva não bate assim!).
Ainda não pensei hoje nos mascarados… (continuo atenta raciocinio do vizinho de baixo).
Antes de ontem o esquizofrénico fez um buraco na porta da rua, espectáculo bonito, fê-lo com as unhas, com tempo, dedicação e método (não veste bege, não olha o chão). Também ele conhece o sistema de transportes (públicos?) urbano, percorre mensalmente a lista de todas as “carreiras” disponíveis, fá-lo por ordem numérica (o sistema rede 7 complicou-lhe a obsessão) e duas vezes por dia, cada dia uma rota diferente.
Encontrei o esquizofrénico no Pavilhão Atlântico, frio e desprovido de emoções mesmo no cenário cinematográfico série B – acompanhado pela família feliz (o anfitrião um dia resenhou “Portrait of a [Portuguese] family”). Vejo do camarote vip o vibrar da tribo “mata o teu canário, afoga o teu peixe, molesta a tua irmã, decapita o teu pai” nome gentilmente atribuído pelo dono do café… e penso…”não estamos mal de todo…”

1 comentário:

Anónimo disse...

Ao acabar de ler este texto tão pormenorizadamente bem escrito, lembrei-me do nosso amigo... FRANCISCOOOO!!! Yeehhh!!! :p
Minha amiga linda... Fico à espera da descrição, como tu tão bem sabes fazer, daquele episódio para recordar... :)
E não te esqueças... a felicidade é um conceito abstrato... hehehe