segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

As dificuldades das minorias

Nenhum dos leitores pode imaginar a confusão que se gera na cabeça de uma criança quando esta é criada no seio de uma família com ideais alimentares opostos.
Quando um dos membros parentais é, hippie, yoga lover e macrobiótico e o outro é…bem…hippie, yoga lover e carnívoro (bastante!), um negro destino está traçado!
Ora, a pobre criancinha nasce na paz! Ouve mantras como canção de embalar, come papas de aveia e millet, recebe massagens energéticas (cheias de prana a fluir… só luzinhas azuis e laranjas weeeeeeeee) para alinhar os chakras e cresce feliz e sorridente (pelo menos q.b). Os anos passam e a criancinha tem de enfrentar a selva. (Vestir a tanga é sem dúvida a primeira dificuldade, usar as lianas também não é lá muito fácil, é necessário possuir força e destreza!)
A criancinha descobre a carne, acontecimento apenas comparável ao homem do paleolítico que descobre o fogo, e a sede de Caaaaaaaaarrrrrrrrrrrrne começa! Durante muitos anos a criancinha acompanha o membro parental carnívoro na sua afirmação de espécie superior devoradora de Animaizinhos comendo todos os tipos de carnes, cozinhadas das mais diversas maneiras, com diferentes teores em gordura e proteína, dando preferência, claro, ás imponentes costeletas de bovino grelhadas, daquelas que ocupam todo o prato e parte da área envolvente!
Um dia a criancinha acorda adolescente e segura de que ser vegetariana é o Caminho da Luz! Claro que esta tarefa não é fácil, a sociedade ainda não está totalmente preparada para isso e com pouca vontade de contornar as dificuldades e os malabarismos económicos (e sociais) a que isso levaria na altura, a adolescente resolve apenas restringir o consumo de grandes Animaizinhos mamíferos.
Um dia, já a adolescente é uma estudante universitária e frequenta a cantina da sua prestigiada e estimada Universidade, quando se depara com uma quarta-feira em que não há hipótese vegetariana, apenas existe carne disponível, carne essa de um grande animal mamífero. Todos os leitores sabem, com certeza, que os estudantes necessitam de se alimentar convenientemente para que os seus neurónios funcionem apropriadamente para conseguir ler 800 páginas num dia e debita-las ipsis verbis no dia seguinte conquistando a almejada nota de 10 valores.
A estudante resolve então ir até ao balcão e pedir a sua refeição:
-Boa tarde, queria, por favor, um bitoque sem a carne!
-Qué?
-Era um bitoque sem carne por favor.
-Não sei o que é isso! Ó Maria olha esta esquisitinha! Diz que quer um bitoque sem carne seja lá o que isso for!
Maria aproxima-se de colher de pau em riste e diz:
-Ah! Eu também não sei o que isso é!
-Olhe, é fácil, é fazer um bitoque normal, apenas não lhe pondo a carne…
-Explique-se lá que já lhe disse que não temos isso, não sabemos o que é!
- Era um prato com arroz, batatas fritas, ovo e salada por favor!
-Ahhhhhhhhhh! Por que é que não disse logo? Está aqui a empatar o negócio…vá andando vá andando!
A estudante respira de alívio e algum tempo depois chega o seu tão desejado inexistente bitoque sem carne. Mas………..
A estudante chega á caixa e a empregada questiona:
-Ai Jesus! O que tens aqui no prato? Eu não sei facturar isto! Tão estranho! Oh Maria anda cá!
Não lhe expliquei que era um bitoque sem carne, esperei que a Maria viesse e lhe explicasse que aquele prato era arroz, batatas fritas, ovo e salada…

5 comentários:

Anónimo disse...

É que o conceito de que se come TUDO menos carne é muito difícil de entender... Geralmente as perguntas são "Não comes carne, então o que é que comes?!"
Anyway, bom post!

Anónimo disse...

"Devoradora de Animaizinhos" ou "Devoradora de Plantinhas"?
"Feijoada sem feijões" ou "Gemada sem ovos"?
:P

Anónimo disse...

Tenta compreender... Isto são empregos seguros e fáceis, sem riscos e baseados na execução de tarefas rotineiras como carregar na tecla "bitoque" e plim! sai a factura!

Não exijas demais destas nobres senhoras cujos cabelos saem das toucas e vêm parar ao meu prato... quer dizer... ao prato dos inocentes estudantes.

São pessoas simples e honestas que vivem a vida pacatamente e qualquer distúrbio na habitual rotina desencadeia histerismo incontrolavel e/ou ataques nervosos e algo agressivos. E aí chamo eu a atenção... se elas estão nervosas têm tendência a roer as unhas e isso não é bom para a sopa. Nem para os bordos das chávenas de café, que é por onde estas senhoras pegam com a ponta dos seus dedos ensalivados, para não se quimarem (as espertalhonas), para depois entregarem a chávena a um estudante desatento.

Anónimo disse...

LOL, eu presenciei este dignificante momento, em que nos apercebemos das dúvidas dramáticas dos meros mortais, se um bitoque não leva carne...pq então se há-de chamar bitoque?

Anónimo disse...

poderias ter dito:por favor não se importa de retirar a carne desse bitoque?

ve la se não te lembras de pedir um garoto sem leite ou sem café